Menu Fechar

Etiqueta: pecado original

Padre Jerónimo Thomaz: OS TEÓLOGOS ORTODOXOS E O DOGMA CATÓLICO DA IMACULADA CONCEIÇÃO

O estudo do padre Jerónimo Thomaz sobre OS DOGMAS CATÓLICOS DA IMACULADA CONCEIÇÃO E DO PECADO ORIGINAL (PDF).
A maioria dos estudos e artigos ortodoxos sobre este tema é escrita sem grande conhecimento da teologia católica romana e sem entender o fundamento filosófico dos dogmas ocidentais.
O padre Jerónimo, com a sua erudição única, vem completar esta carência e dar uma perspetiva mais complexa sobre o tema e as suas implicações.

 

O dogma católico-romano da Imaculada Conceição

Nenhum dos antigos Santos Padres disse que Deus, miraculosamente, purificou a Virgem Maria enquanto esta ainda estava no ventre da sua mãe e muitos indicaram, diretamente, que ela, assim como todos os homens, suportou uma batalha contra o pecado, mas foi vitoriosa sobre as tentações e salva pelo Seu Divino Filho (São João Maximovitch, A Veneração Ortodoxa à Mãe de Deus). A Igreja Ortodoxa, que exalta, imensamente, a Mãe de Deus nos seus hinos de louvor, não se atreve a atribuir-lhe aquilo que não foi mencionado pela Sagrada Escritura ou pela Tradição.

Arquimandrita Vassilios Papavassiliou: O pecado original – doutrina ortodoxa ou heresia?

Como nós, ortodoxos, adotamos, fácil e indiscriminadamente, a linguagem da teologia ocidental!  Sim, é sempre uma grande tentação, para aqueles que se converteram à Ortodoxia,  vindos de denominações cristãs do Ocidente, trazer consigo a herança das suas crenças  anteriores, em vez de abraçar a Ortodoxia como algo totalmente diferente do Cristianismo que deixaram para trás. Pois, mesmo que possam ver a cristandade ocidental de hoje como um alienígena em relação à Igreja dos Padres, eles ainda são, muitas vezes, relutantes em aceitar que nem tudo o que havia no Ocidente, anteriormente ao Cisma, é parte integrante da Ortodoxia.

Essa  influência da teologia ocidental pode ser encontrada não somente entre os ortodoxos convertidos no Ocidente, mas também entre aqueles que foram educados na fé ortodoxa, em países tradicionalmente ortodoxos como a Grécia e a Rússia. Isso ocorre, muitas vezes, porque nós ortodoxos somos, infelizmente, demasiado ingénuos, ao considerar que as opiniões fundamentalistas entre os cristãos ocidentais devem ser, também, aquelas mais “corretas” de um ponto de vista ortodoxo. Na realidade, isso é, raramente (ou mesmo nunca) a verdade.

As heresias tendem a encontrar-se, sempre, em polos opostos. Não é incomum que uma heresia surja como uma reação a outra.  Tanto é que, enquanto uns reivindicaram a defesa da heresia de que Cristo não é Deus, outros, para contestá-los, defendeu a heresia de que Ele não é homem. Uma heresia condena a veneração da Virgem Maria como Mãe de Deus, outra faz-lhe livre da queda por uma imaculada conceição. Uns alegam que o homem é salvo apenas pela graça, outros que é salvo apenas pelas obras.  Tais  extremos não são  abraçados pela Ortodoxia.

A verdadeira Ortodoxia tende a ser o meio-termo entre os dois extremos. Isso vale, também, para a doutrina do “pecado original”. “Mas, espera!”, vem, então, um protesto: “A Igreja Ortodoxa não acredita no pecado original!” Eu hesitaria em dizer isso, ao menos sem uma explicação mais séria.  Prefiro dizer que a Igreja Ortodoxa acredita no “pecado ancestral” (πρωπατορικό ἁμάρτημα)