Muitos leitores nunca ouviram que não existe progresso moral – por isso, não me surpreende que tenham pedido para escrever com mais profundidade sobre o assunto. Começarei focalizando a questão do pecado em si. Se entendermos corretamente a natureza do pecado e seu verdadeiro caráter, a noção de progresso moral será vista com mais clareza. Começarei esclarecendo a diferença entre a noção de moralidade e a compreensão teológica do pecado. Esses são dois mundos muito diferentes. Moralidade (como eu uso a palavra) é um termo amplo que geralmente descreve a adesão (ou falta de adesão) a um conjunto de padrões ou normas de comportamento. Nesse entendimento, todo mundo pratica alguma forma de moralidade. Um ateu pode não acreditar em Deus, mas ainda assim terá um senso internalizado de certo ou errado, bem como um conjunto de expectativas para si mesmo e para os outros. Nunca houve um conjunto universalmente aceito de padrões morais. Pessoas diferentes, culturas diferentes têm uma variedade de compreensões morais e formas de discutir o que significa ser “moral”.
„A desobediência primeira do homem, o Fruto
Daquela Árvore Proibida, cujo sabor letal
Trouxe a Morte ao Mundo, e toda nossa miséria
Com a perda do Éden, até um Homem maior
Nos restaurar, e uma vez mais recebermos o trono bendito,
Canta Ó, empírea Musa!”
John Milton, Paraíso Perdido, Livro I
Embora Milton tenha escrito de forma mais eloquente do que eu, a música da humanidade é criação, queda e redenção – uma bela sinfonia repleta de ricas polifonias, repentinas modulações e dissonâncias dramáticas. Em algum ponto, uma melodia trágica embrenhou-se na partitura, mas no fim é sobrepujada e a música conclui com fanfarra triunfante. Embora a maioria dos cristãos concorde com esta imagem musical, grupos diferentes escreveriam o prelúdio de forma diferente. De onde exatamente a melodia trágica veio, quem a escreveu na partitura, e como ela afeta o resto da música? A resposta a estas perguntas influencia os atributos das partes individuais, assim como a direção de toda a narrativa musical.
Esta é nossa narrativa de trabalho como alicerce do Cristianismo: Adão e Eva foram criados em comunhão com Deus, perderam esta comunhão, e o resto da humanidade os seguiu. Desta narrativa emergem duas visões divergentes sobre o ser humano, duas antropologias. Embora todos os cristãos usem o termo “pecado original” para se referir ao estado da humanidade depois da Queda (Rom. 5:12-21; Cor. 15:22), muitos Cristãos Ortodoxos preferem o termo “pecado ancestral”. Assim, por conveniência, utilizarei o termo pecado original para referir-me exclusivamente às articulações deste conceito feitas por Roma, Calvinistas e Luteranos, que ensinam que a humanidade herdou tanto os efeitos quanto a culpa do pecado de Adão. Em contraste, utilizarei o termo pecado ancestral, para denotar o ensino Cristão Ortodoxo de que a humanidade herdou apenas as consequências do pecado de Adão, e não sua culpa. Uma visão é ontológica, a outra é existencial.