Em 6 de janeiro de 1848, o Papa Pio IX enviou uma encíclica “aos cristãos do Oriente”, os Uniatas, a fim de os encorajar e felicitar “por terem regressado à comunhão católica da Igreja única de Jesus Cristo (…), enquanto tantos outros dos seus compatriotas erraram até o presente, fora do redil de Jesus Cristo”, e a todos os outros, ortodoxos, coptas, arménios e nestorianos, a fim de os “exortar” e suplicar para “voltarem, sem muito divergir, à comunhão desta Santa Sé de Pedro, que é o fundamento da verdadeira Igreja de Jesus Cristo”. Ao longo da encíclica, todas as divergências propriamente teológicas entre Roma e os ortodoxos foram negadas, para além do único problema do primado. Este, pelo contrário, foi mencionado nos termos anunciados pelas definições doutrinárias de 1870. Eis algumas passagens características:
“Nosso Senhor Jesus Cristo, o autor da salvação dos homens, colocou em Pedro, o chefe dos Apóstolos, ao qual deu as chaves do Reino dos Céus (Mt 16:18-19), o fundamento da Sua única Igreja, sobre a qual as portas do inferno não prevalecerão. Além disso, orou para que a Sua fé não desfalecesse, acrescentando o mandamento de que ele fortalecesse os seus irmãos na fé (Lc 22:31-32). Por fim, encarregou-o de apascentar as suas ovelhas (Jo 2:15 ss) e, por consequência, confiou-lhe toda a Igreja, que consiste nas verdadeiras ovelhas e cordeiros de Jesus Cristo. Todas essas prerrogativas são devidas aos Soberanos Pontífices de Roma, sucessores de Pedro; porque, depois de Pedro, a Igreja não pode ser privada do fundamento sobre a qual, erguida por Jesus Cristo, deve permanecer até o fim dos séculos. Por isso, Santo Irineu, discípulo de Policarpo (que tinha escutado o apóstolo João), depois, Bispo de Lyon (…) ao querer referir, contra os hereges do seu século, a doutrina dos Apóstolos, julgou inútil enumerar a sucessão de todas as Igrejas que tiveram a sua origem nos Apóstolos, assegurando que basta citar, contra eles, a doutrina da Igreja romana: “É necessário que toda a Igreja, ou seja, que todos os fiéis, de todo o Universo, estejam de acordo com a Igreja de Roma, devido à sua preeminência, onde, para tudo o que crêem os fiéis, foi conservada a tradição transmitida pelos Apóstolos (Contr. Haer. I, III, 3) (…) os Bispos de Roma obtiveram o primeiro lugar nos Concílios e, sobretudo, antes e depois dos Concílios (…)
Essa encíclica papal teve a sua resposta através de uma encíclica patriarcal dirigida, nesse mesmo ano de 1848, a todos os ortodoxos, pelos Patriarcas de Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. Eis os principais excertos desse importante documento doutrinário:
ENCÍCLICA DA SANTA IGREJA, UNA, CATÓLICA E APOSTÓLICA
AOS CRISTÃOS ORTODOXOS DE TODOS OS PAÍSES
A todos os nossos queridos e amados irmãos no Espírito Santo, os veneráveis Bispos, ao seu piedoso Clero e a todos os ortodoxos, filhos verdadeiros da Santa Igreja, Una, Católica e Apostólica, saudações fraternas no Espírito Santo e a bênção divina!