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Sobre a participação dos catecúmenos na liturgia

Queridos catecúmenos!

Até agora nunca tivera necessidade de falar sobre este assunto, porque, até há pouco tempo, todos os catecúmenos das nossas comunidades permaneciam na igreja, e aceitavam até ler os Salmos e a Epístola, se esta lhes fosse dada a ler. Mas, há vários meses, porém, que alguns catecúmenos saem da Igreja durante a liturgia, sem mesmo saberem o momento certo em que isso se fazia outrora, enquanto os outros, perplexos, não sabem o que fazer.

Mesmo os fiéis batizados não compreendem o que se passa, porque estavam habituados a que os catecúmenos permanecessem entre eles, embora sem comungarem, até porque mesmo os batizados não comungam todos em cada Liturgia; nesse caso, segundo o que diz São João Crisóstomo no seu Comentário à Epístola aos Efésios, deveriam sair juntos com os catecúmenos – o que não acontece na Igreja desde o séc. VI! De qualquer modo, nós conhecemos-vos, e não há, portanto, perigo de vos darmos a comunhão antes de estardes batizados.

Por favor, não saiais da igreja durante a segunda parte da Liturgia, tanto mais que, propositadamente, jamais lemos nas nossas igrejas a admonição diaconal que vos convida a sair! A perturbação que causais ao sair e esperar fora é maior do que a que podeis causar ficando na Igreja.

O que se passava outrora na Igreja não tem já qualquer relevância hoje, pois as circunstâncias são inteiramente diferentes. Rogo-vos que não sejais fanáticos nem vos entremetais a interpretar a história da Igreja de acordo com as vossas opiniões pessoais, pois a Igreja Ortodoxa é uma sociedade hierárquica, em que cabe à hierarquia (a quem assiste de modo especial o Espírito Santo) definir o que em cada circunstância e em cada caso é conveniente ou inconveniente praticar.

Muitas obras históricas e teológicas dos séculos III-IV, a maioria – apócrifos (Didascalia, Constituições Apostólicas, Testamentum Domini etc.), chamam a atenção para estes dois perigos: o de receber ofertas dos catecúmenos e o de lhes dar a comunhão – algo que demonstra que tais situações de facto ocorriam, principalmente porque a Igreja e as suas celebrações eram organizadas de forma diferente. Até ao século VI, em algumas comunidades, os catecúmenos eram mais numerosos do que os batizados, pelo que se impunha discriminá-los claramente. De qualquer modo, eles não eram expulsos da igreja, mas simplesmente convidados a passar da nave para o nártex; ninguém ficava fora (pois nem em toda a parte o clima é como o de Portugal). Atualmente, em Portugal, não temos nenhuma igreja que tenha nártex onde os catecúmenos possam aguardar durante a segunda parte da Liturgia; precisamente por isso, e porque os conhecemos um por um, eles não precisam sair.

A antiga proibição de os catecúmenos permanecerem na segunda parte da Liturgia estava, sobretudo no Ocidente, também relacionada com a prática do ofertório. Os diáconos não podiam receber oferendas de pão, vinho e incenso dos catecúmenos. Já há quase 1500 anos todo esse ordenamento mudou, e no Oriente não há sequer ofertório; tudo se resume, por conseguinte, ao facto de se não comemorarem os catecúmenos na Proscomídia nem nas intercessões de Anáfora; mas nada vos impede de participardes na cerimónia litúrgica.

De qualquer modo a chamada disciplina arcani — que exigia que ninguém estranho à comunidade escutasse o Credo, o Padre-Nosso e a Anáfora consecratória — não funciona já, e não há qualquer interesse em restabelecê-la, já que qualquer pessoa pode ver e ouvir no YouTube tudo o que se passa no santuário durante as funções litúrgicas, bem como ler na internet todas as orações sacerdotais.

O facto de duas ou três comunidades do Monte Athos (onde, por motivos óbvios, nunca se praticou a disciplina catecumenal) despedirem os catecúmenos num certo momento da Liturgia, é um exemplo vergonhoso, que só demonstra a ignorância de quem o pôs em prática, e não pode constituir de forma alguma uma norma. Quando 99 % dos ortodoxos recebem o batismo na infância, a antiga disciplina do catecumenado não pode ser restaurada em toda a sua complexidade. Se alguma vez quisessem que o restaurássemos, não me oporia liminarmente, mas estou certo de que os próprios catecúmenos me pediriam para o abandonar, porque não o poderiam suportar nem quantitativa nem qualitativamente.

Não esqueçais que uma das maiores virtudes dos Ortodoxos é o discernimento, a diakrisis de que nos fala S. Paulo na 1ª Epístola aos Coríntios, em especial no capítulo 12. Se se não tiver discernimento, as demais virtudes tornam-se inúteis, pois deixa de haver qualquer critério a orientar a nossa prática cristã.

Despeço-me, após esta breve instrução, como vosso pastor que sou, com um abraço paternal; e com os meus votos mais sinceros de que possais viver intensamente, graças à vossa participação mitigada na liturgia e ao vosso esforço pessoal de contemplação do Mistério de Cristo, as grandes festividades que se avizinham.

Publicado emBíblia ou Sagrada Escritura

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