Pergunta
Hoje, tive uma breve conversa com um colega de trabalho sobre a Páscoa. Surgiu a partir da pergunta que eu lhe fiz, ”Como foi a tua Páscoa?”- assumindo que ele a celebrava pelo calendário Gregoriano. Ele respondeu que não celebra a Páscoa porque é baseada em rituais pagãos. Ele prosseguiu mostrando-me literatura na qual ele baseava as suas afirmações. Ele disse ainda que é suposto celebrar a Ressurreição continuamente, e não apenas num dia do ano. Será então que nós, como Cristãos Ortodoxos, devemos usar o termo Páscoa (“Easter”, em Inglês) se é baseado em antigos rituais pagãos.
Resposta
Você escreve: Hoje, tive uma breve conversa com um colega de trabalho sobre a Páscoa. Surgiu a partir da pergunta que eu lhe fiz, ”Como foi a tua Páscoa?”- assumindo que ele a celebrava pelo calendário Gregoriano. Ele respondeu que não celebra a Páscoa porque é baseada em rituais pagãos. Ele prosseguiu em mostrando-me literatura na qual ele baseava as suas afirmações.
Resposta: É provável que ele pertença a uma seita dita “Cristã”- e existem inúmeras seitas que usam o termo “Cristão”, mas, na verdade, têm pouco em comum com o Cristianismo histórico – que ignora completamente o facto de, historicamente, a Igreja desde os tempos primitivos celebrar a Ressurreição de Cristo- hoje em dia, conhecida como “Páscoa” entre os Cristãos Ortodoxos. Tais seitas são completamente ignorantes da história da Igreja. Eles confundem o uso contemporâneo do termo não-Cristão “Easter” (termo usado nos EUA para se referir á Páscoa)”, os “símbolos de Páscoa (Easter)” seculares- coelhos, galinhas, entre outros, nenhum deles encontrado na Tradição Cristã, Ritos Litúrgicos e Hinos, etc.- e também não na Tradição da Igreja, que não emprega essa terminologia, nem símbolos. Ao mesmo tempo, a Tradição histórica da Igreja- e francamente, a própria história da Igreja- é completamente ignorada ou negada, como se nunca tivesse acontecido.
É afirmado- e nem todos sabem que não existe nenhum consenso sólido sobre isto- que a palavra “Easter” vêm do nome de uma Deusa da fertilidade Pagã, “Estre.” No entanto a Igreja, desde os tempos antigos, referia-se á celebração da Ressurreição como “Pascha”, Grego/Hebreu para “Passover” (Páscoa), e não “Easter”, como tal enfatizando que a Ressurreição é o cumprimento da Páscoa do Antigo Testamento. Pascha é a Páscoa do Novo Testamento; Jesus Cristo é o novo Cordeiro Pascal que derrama o seu sangue, tal como o fazia o Cordeiro Pascal do Antigo Testamento, para a salvação do Povo de Deus, para que eles pudessem “passar” da morte á vida, assim como os fiéis do Antigo Testamento passaram do Egipto para a Terra Prometida. Como tal, qualquer pessoa que esteja minimamente ciente da história e doutrina Cristã, está ciente do facto de que a antiga celebração da Ressurreição de Cristo é a conclusão e cumprimento da Páscoa do Antigo Testamento, e não a “Cristianização” de hábitos e costumes de fertilização Pagãos.
Infelizmente, em várias culturas- incluindo a nossa- a imagem de um coelho, em vez da de um Cristo Vitorioso, predomina, não fazendo qualquer relação com a essência da Páscoa; tais símbolos seculares, no entanto, certamente não definem a Celebração Pascal da Igreja, nem indicam que são “aprovados pela Igreja”, falando assim. Para além disso, a presença destes símbolos é, dificilmente, uma base séria para acusar a Igreja de celebrar uma versão “Cristianizada” de um rito ou culto de fertilização, tal como o seu amigo, sem sombra de dúvida, opinaria.
Eu posso dizer que em alguns casos, nós Cristãos Ortodoxos fizemos um mau trabalho em proclamar a essência da Páscoa- a vitória do Cristo Salvador.
Quão frequentemente não encontramos histórias na imprensa secular ou na TV que sugerem que o foco da Páscoa para os Cristãos Ortodoxos está nos ovos coloridos ou em comer “sopa tradicional” feita de órgãos de cordeiro, ou em salsichas com alho, com pouca ou nenhuma referência á Ressurreição do Senhor? [Deixem um membro da seita das Testemunhas de Jeová ler tais coisas, e não haverá espanto em indivíduos não-Ortodoxos não perceberem o que estamos a celebrar!] Para os Cristãos Ortodoxos é crucial considerar se de facto nós apresentamos ao mundo uma imagem clara relativa á celebração da Páscoa, ou se simplesmente confirmamos o que dizem os mal-informados e depreciadores, que estamos meramente a continuar um festival pagão que não tem nada a ver com o Cristo Ressuscitado. Por outras palavras, por vezes nós falamos mais das nossas queridas receitas de cordeiro, de salsichas, e de queijo, do que do “Cordeiro de Deus que retira os pecados do mundo” e que nos leva “da morte á vida, da terra ao Céu.”
Você Escreve: Ele disse ainda que é suposto celebrar a Ressurreição continuamente, e não apenas num dia do ano.
Resposta: A Igreja Ortodoxa concordaria que a Ressurreição de Cristo é algo que é celebrado continuamente, sendo a base da nossa Fé- e, de facto, nós fazemos isso precisamente sempre que celebramos a Eucaristia. Todos os Domingos celebramos a Ressurreição, tal como é visível na nossa Hinografia. São Paulo escreve que se Cristo não ressuscitou dos mortos, o nosso ensinamento e pregação é uma completa perda de tempo, uma verdadeira ilusão. Ao mesmo tempo, nós participamos na morte e Ressurreição de Cristo através da antiga Celebração Pascal- uma Celebração que de forma alguma tenta “duplicar” ou “recrear” os eventos originais, mas que de uma forma muito real é a continuação de eventos, que tendo em conta que estão além do tempo e do espaço, estão continuamente a acontecer. Nós não relembramos “eventos passados”, pelo contrário, participamos nessa Crucificação Singular, sepultamento, e Ressurreição de Cristo que não conhece fim.
Você Escreve: Será então que nós, como Cristãos Ortodoxos, devemos usar o termo “Easter” se é baseado em antigos rituais Pagãos.
Resposta: Como observado acima, nós celebramos a “Pascha”, a Nova Páscoa, a vitória do novo Cordeiro Pascal que derrama o seu sangue pela salvação do Povo de Deus, e que não é superado pela morte e corrupção. Esta celebração não é baseada em rituais Pagãos, é baseada naquilo que nos é revelado na Escritura e celebrado pela Igreja desde os tempos Apostólicos na Sagrada Tradição da Igreja. Talvez o termo “Easter” seja baseado em terminologia pagã- como tal é apropriado para nós usar o termo próprio, “Pascha” (Páscoa) – mas a eterna vitória do Nosso Salvador que celebramos e na qual participamos, dificilmente é baseada no Paganismo.
Texto original. Tradução em português: Paulo Ferreira