Pergunta: Reverendíssimo Pe. Pedro! Como devemos interpretar as profecias apocalípticas feitas ultimamente e como podemos evitar o apocalipse? O que a Igreja nos ensina sobre o fim do mundo?
A pergunta é sempre atual, mas demonstra uma falta de conhecimento das noções e da doutrina cristã sobre o fim do mundo. Tentarei dar uma resposta sistemática, a qual, espero bem, seja útil para esclarecer o assunto.
1. A palavra grega apocalipse significa “revelação” e não deve, de forma alguma, ser compreendida como “o fim do mundo”. “Evitar o apocalipse” significa evitar uma revelação que vem de Deus ou, mesmo, evitar o próprio Deus e penso que não é a isso que se refere a pergunta, porque nós não fugimos das revelações divinas, mas sim esperamo-nas e rezamos para recebê-las de uma forma autêntica.
Por outro lado, é verdade que a noção de “apocalipse” é reduzida, muitas vezes, às revelações proféticas sobre o fim do mundo, dadas por Deus a São João, o Teólogo, revelações essas que ele escreveu no livro denominado “Apocalipse”; se bem que somente uma pequena parte deste livro se refere ao fim do mundo, uma vez que o seu restante expressa, através de símbolos e metáforas, a vida moral e litúrgica da Igreja do primeiro século cristão. É, então, um erro fundamental identificar o apocalipse como o fim do mundo, apesar de os média e a indústria cinematográfica fazerem-no sem nenhuma reticência e duma forma manipuladora.
2. A Bíblia e a doutrina da Igreja diferenciam os sinais dos últimos tempos (denominados erroneamente de “o fim do mundo”) da Segunda Vinda do Senhor Jesus (em grego, parusia). Mesmo assim, os manipuladores pseudorreligiosos e pseudocientíficos falam-nos do fim do mundo como um sinónimo do desaparecimento da humanidade, em consequência de catástrofes naturais (terramotos, tsunamis, inundações etc.). A Bíblia diz-nos, porém, que tais acontecimentos tratam-se apenas de sinais da chegada do fim, mas não o fim propriamente dito.
Os sinais dos quais a Bíblia e os Santos Padres nos falam têm como propósito advertir-nos e manter-nos num estado de vigia, sobretudo porque eles podem representar o fim súbito dalguns de nós ou até dalgumas comunidades, grandes ou pequenas.
Porém, conforme o Apocalipse, antes do fim definitivo do mundo, haverá um período de três anos e meio, no qual o Anticristo reinará, sendo que, apenas depois disso, haverá o fim do mundo, o qual ocorrerá com a chegada de Cristo-Salvador e o Juízo final (Mateus 24 e textos paralelos). O próprio Deus prometeu que não iria mais destruir o mundo com enchentes (Génesis 9:8-17) e os que insistem em tais ideias (tais como os realizadores do filme Apocalipse, por exemplo) são, na realidade, difamadores da palavra de Deus.
3. A Segunda Vinda do Salvador marcará o fim definitivo deste mundo, do qual absolutamente ninguém poderá escapar. Por outro lado, a parusia significará o fim do mal e a entrada no Reino de Deus. Eis porque os verdadeiros cristãos deveriam estar sempre preparados e esperar com alegria este fim do mundo e não buscar formas mundanas de evitar ou adiar a chegada do Senhor. O próprio Senhor, Jesus Cristo, ensinou-nos a rezar “venha a nós o Teu Reino” (Mateus 6:10); mas nós dizemos, diariamente, estas palavras, na oração do ‘Pai Nosso’, sem entendermos o seu significado real, que é o de desejar o fim deste mundo e a entrada no eterno Reino de Deus. Também o Apocalipse termina com as palavras “vem, Senhor Jesus!” (22:20), sendo que esta chamada e espera cheia de esperança tornou-se uma verdade de fé, confessada através da frase “Creio (…) em Jesus Cristo (…) que subiu aos Céus e de novo há-de vir, em Glória, para julgar os vivos e os mortos, Cujo Reino não terá fim”, à qual segue a conclusão: “espero a ressurreição dos mortos e a Vida eterna. Ámen”. Por conseguinte, quem crê, de outra forma, no fim do mundo, não está de acordo com a doutrina da Igreja e nem sequer com as palavras que ele próprio diz, nas suas orações.
4. Ainda que alguns destes “sinais apocalípticos” pareçam estar a cumprir-se mais do que nunca, nós não podemos saber a hora da parusia ou de outra etapa anterior, porque Deus quer que nós estejamos numa permanente vigia (“Vigiem, pois não sabem nem o dia, nem a hora quando virá o Filho do Homem ” – Mateus 25:14). Qualquer especulação ou tentativa de adivinhar ou prever o fim do mundo, bem como a chegada do Senhor, sobre a qual “nem os anjos do céu sabem quando será” (Mateus 24:36), é uma mentira que nem sequer deve ser levada em conta, pois vem do diabo. Os adventistas, as Testemunhas de Jeová e muitas outras seitas ou movimentos religiosos, já previram, por diversas vezes, o fim do mundo, mas ele não aconteceu e nem poderá acontecer muito cedo. Porquê? Porque há muitas profecias bíblicas que ainda não foram cumpridas e sabemos que Deus não é mentiroso; portanto, elas terão de se cumprir. Mas essas profecias não nos devem deixar indiferentes, porque é muito mais correto e útil pensarmos e prepararmo-nos para o fim (a morte) de cada um de nós, que pode vir a qualquer momento. A partir daí, então, a espera do fim do mundo será uma espera da ressuscitação universal. Na segunda vinda do Senhor, os mortos ressuscitarão e os que estiverem vivos até a parusia serão transfigurados (I Coríntios 15:51-52) e, assim, serão julgados todos. O cristianismo é baseado nesses ensinamentos e, sem eles, não há cristianismo.
5. Também deveríamos falar sobre a política de globalização e arquivação das pessoas, a qual representa passos muito concretos na preparação da vinda do Anticristo. Os verdadeiros cristãos, porém, não devem-se assustar com isso, porque o recebimento dum código numérico pessoal ou a aceitação dum passaporte com um chip não representam uma negação de Deus; mas constituem-se, sem dúvida, em formas de aprofundar a nossa dependência do “sistema”, até a impossibilidade de vivermos fora dele. Para já, é este o substrato que temos que ter em conta e não a formalidade de aceitar ou não um documento, o qual, a qualquer momento, pode ser deitado fora. Então, se formos realistas, não poderemos negar a implicação socioeconómica da introdução dos documentos biométricos ou doutras medidas deste tipo, mas não temos nenhuma prova de que elas seriam uma negação de Deus. Porém, daqui a pouco tempo (talvez em 20 ou 30 anos), as facilidades que o “sistema” nos outorga (os seguros médicos, os estudos, as possibilidades de venda e compra, a livre circulação etc.) serão tão “normais e indispensáveis”, que vamos ser tentados a escolher entre elas e Deus. E ser-nos-á exigido fazer essa escolha! Formalmente, será uma escolha livre; mas, na realidade, será bastante condicional, sobretudo para os que têm famílias. Será, então, nestes momentos que virão a marcação e o reino do Anticristo, sobre os quais o “Apocalipse” fala. Ele não vai reinar muito tempo (três anos e meio), mas vai ser implacável para os que quiserem ficar com Cristo, o Qual, na Sua vinda, recompensará a cada pessoa por aquilo que fez na vida: bem ou mal.
Tradução: Ioana Andreea Lazăr e Gabriela Mota