“Nós não sabíamos se estávamos no céu ou na terra, pois certamente não existe tal esplendor ou beleza em lugar algum na terra. Nós não conseguimos descrever para você; nós só sabemos que Deus habita lá entre homens e que o Serviço deles supera a adoração de outros lugares…”
Na parte final do século décimo, Vladimir, o Príncipe de Kiev enviou emissários a vários centros Cristãos para estudar a forma deles de adoração. Estas são as palavras que os enviados proferiram quando eles reportaram a sua presença na celebração da Eucaristia na Grande Igreja da Santa Sabedoria, em Constantinopla. A experiência profunda expressada pelos enviados Russos tem sido uma partilhada ao longo dos séculos por muitos que testemunharam pela primeira vez a bela e inspiradora Divina Liturgia da Igreja Ortodoxa.
A Sagrada Liturgia é a experiência mais antiga de adoração Cristã, bem como a mais distintiva. Eucaristia vem da palavra Grega que significa Ação de Graças. Num sentido particular, a palavra descreve a forma mais importante da atitude da Igreja para com toda a vida. A origem da Eucaristia é rastreada até á Última Ceia, em que Cristo instruiu os seus discípulos a oferecer pão e vinho em sua memória. A Eucaristia é o elemento mais distintivo da adoração Ortodoxa porque nela a Igreja se reúne para relembrar e celebrar a Vida, Morte, e Ressurreição de Cristo, e assim, participar no mistério da Salvação.
Na Igreja Ortodoxa, a Eucaristia também é conhecida como a Divina Liturgia. A palavra Liturgia significa obra do Povo; esta descrição serve para enfatizar o caráter coletivo da Eucaristia. Quando um Ortodoxo participa na Divina Liturgia, ele não é uma pessoa isolada que vem simplesmente para ouvir um sermão.
Em vez disso, ele vem como um membro da Comunidade de Fé que participa naquilo que é precisamente o propósito da Igreja, que é a Adoração da Santíssima Trindade. Como tal, a Eucaristia é verdadeiramente o centro da vida da Igreja e um principal meio de desenvolvimento espiritual, tanto para o Cristão individual, como para a Igreja como um todo. A Eucaristia não apenas incorpora e expressa a Fé Cristã de forma única, mas também aumenta e aprofunda a nossa Fé na Trindade. Este Sacramento místico é a experiência para a qual todas as outras são direcionadas, e da qual recebem a sua direção.
A Eucaristia, o principal Sacramento e Mistério da Igreja Ortodoxa, não é tanto um texto para ser estudado, mas ao invés uma experiência de Comunhão com o Deus vivo em que oração, melodia, gestos, a criação material, arte e arquitetura entram em plena orquestração. A Eucaristia é uma celebração de Fé que toca não apenas a mente mas também as emoções e os sentidos.
Ao longo dos séculos, Cristãos viram várias dimensões na Eucaristia. Os vários títulos que vieram descrever o Rito testemunham a riqueza do seu significado. A Eucaristia tem sido conhecida como a Oferta Santa, os Santos Mistérios, a Ceia Mística, e a Sagrada Comunhão. A Igreja Ortodoxa reconhece as várias facetas da Eucaristia e sabiamente se recusa a enfatizar demasiado um elemento, em detrimento de outros. Ao assim fazer, a Ortodoxia claramente evitou reduzir a Eucaristia a um simples memorial da Última Ceia que é apenas ocasionalmente observado. Seguindo os ensinamentos tanto da Escritura como da Tradição, a Igreja Ortodoxa acredita que Cristo está verdadeiramente presente com o seu Povo na celebração da Sagrada Eucaristia. Os dons Eucarísticas do pão e vinho tornam-se para nós o seu Corpo e no seu Sangue. Nós afirmamos que estes Santos Dons são transfigurados nos primeiros frutos da Nova Criação em que, finalmente, Deus será “tudo em todos”.
Três Liturgias
Da forma como é celebrada hoje, a Divina Liturgia é um produto de desenvolvimento histórico. O núcleo fundamental da Liturgia data do tempo de Cristo e dos Apóstolos. A isto, orações, hinos, e gestos foram sendo adicionados ao longo dos séculos. A Liturgia atingiu uma estrutura base no século nono.
Existem três formas da Eucaristia presentemente em uso na Igreja Ortodoxa
– A Liturgia de São João Crisóstomo, que é mais frequentemente celebrada.
– A Liturgia de São Basílio o Grande, que é celebrada apenas 10 vezes por ano.
– A Liturgia de São Tiago que é celebrada a 23 de Outubro, o dia da festa do Santo. Enquanto estes Santos não compuseram toda a Liturgia que tem os seus nomes, é provável que eles tenham sido os autores de muitas das orações. A estrutura e elementos básicos das três Liturgias é semelhante, apesar de haver diferenças em alguns hinos e orações.
Além destas Liturgias, existe também a Liturgia (anónima) dos Dons Pré-Santificados. Esta não é verdadeiramente uma Liturgia Eucarística, mas ao invés um Serviço de Vésperas noturno, seguido pela distribuição de Sagrada Comunhão guardada do Domingo anterior. Esta Liturgia é apenas celebrada durante a Quaresma (Pascal), de segunda-feira até sexta-feira, quando a Eucaristia plena não é permitida devido ao seu Espírito de Ressurreição.
A Divina Liturgia é propriamente celebrada apenas uma vez por dia. Este costume serve para enfatizar e manter a união da congregação local. A Eucaristia é sempre o Serviço principal nos Domingos e Dias Santos e pode ser celebrada noutros dias da semana.
No entanto, a Divina Liturgia não é celebrada pelo sacerdócio privadamente, sem a congregação. A Eucaristia é normalmente celebrada de manhã mas, com a bênção do Bispo, pode ser oferecida á noite. A Arquidiocese Ortodoxa Grega encorajou recentemente a celebração da Liturgia na noite após as Vésperas, na Vigília de Festas principais e Dias de Santos.
As Ações da Divina Liturgia
A Divina Liturgia pode ser dividida em duas partes principais: a Liturgia dos Catecúmenos e a Liturgia dos Fiéis, que são precedidas pelo Serviço de Preparação.
Apesar de haver várias interpretações simbólicas da Divina Liturgia, o significado mais fundamental é encontrado nas ações e orações.
O Serviço de Preparação
Antes do início da Liturgia, o padre prepara-se com oração e depois procede em Paramentar-se. Os Paramentos (vestes) expressam o seu Ministério Sacerdotal bem como o seu serviço. Depois, o padre vai para a mesa da Proscomídia que está no lado esquerdo da Mesa do Altar no Santuário. Aí, ele prepara a oferta do pão e vinho para a Liturgia. Idealmente, o pão e o vinho dos quais a oferta é tirada, são preparados pelos membros da congregação. Os elementos são apresentados ao padre antes do Serviço, juntamente com os nomes daquelas pessoas, vivas e falecidas, que serão para ser lembradas durante a Divina Liturgia. A oferta simbolicamente representa toda a Igreja reunida em torno de Cristo, o Cordeiro de Deus.
A Liturgia dos Catecúmenos
A Divina Liturgia começa com a declaração solene: “Bendito é o Reino do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, agora e sempiternamente, e pelos séculos dos séculos.” Com estas palavras somos lembrados que na Divina Liturgia a Igreja torna-se uma manifestação real do Reino de Deus na terra.
Tendo em conta que a primeira parte da Liturgia foi designada para os Catecúmenos, aqueles sendo educados na Fé, tinha uma natureza muito instrutiva. A Eucaristia também tem elementos que estão em comum com outros Serviços. Nós nos juntamos enquanto Cristãos que partilham uma Fé comum na Santíssima Trindade. Nós cantamos e oramos como pessoas unidas em Cristo, que não estão vinculadas por tempo, espaço, ou barreiras sociais.
A Pequena Entrada é a ação central da primeira parte da Liturgia. Toma lugar uma Procissão em que o padre leva o Livro dos Evangelhos do Santuário para a Nave. A Procissão dirige a nossa atenção para a Bíblia e para a presença de Cristo no Evangelho. A entrada leva á lição da Epístola, o Evangelho, e o Sermão.
A Liturgia dos Fiéis
Na Igreja primitiva, apenas aos que eram Batizados e não num estado de pecado era-lhes permitido ficar para a parte mais solene da Liturgia. Com a Grande Entrada a marcar o início desta parte da Liturgia, a oferta de pão e vinho é trazida pelo padre da Mesa de Preparação, através da Nave, e até á Mesa do Altar. Antes que oferta possa proceder, no entanto, somos chamados a amarmo-nos uns aos outros para que possamos perfeitamente confessar a nossa Fé. Na Igreja primitiva, o Beijo da Paz era trocado nesta altura. Após o simbólico beijo de Paz, nós reunimo-nos juntos no ato de professar a nossa Fé através das palavras do Credo.
Só agora podemos devidamente oferecer os nossos dons do pão e do vinho ao Pai, tal como O Nosso Senhor nos indicou a fazer em sua memória. Esta oferta é uma de grande alegria, pois através dela lembramo-nos das poderosas ações de Deus através das quais nós recebemos o presente da Salvação, e especialmente da Vida, Morte, e Ressurreição de Cristo. Nós invocamos o Espírito Santo, para que desça sobre nós e sobre a nossa oferta, pedindo ao Pai que eles se tornem para nós o Corpo e Sangue de Cristo. Através do nosso agradecimento e lembrança, o Espírito Santo revela a presença do Cristo Ressuscitado no meio de nós.
O padre vem do Altar com os Santos Dons, convidando a congregação a aproximar-se com reverência de Deus, com Fé, e com amor.” A nossa partilha nos Dons Eucarísticos não apenas expressa Comunhão uns com os outros, mas também a nossa união com o Pai no seu Reino. Indivíduos aproximam-se dos Santos Dons e recebem o pão Eucarístico e o vinho do cálice comum. O padre distribui os Santos Dons através da colher de Comunhão. Sendo a Sagrada Comunhão uma expressão da nossa Fé, a receção dos Santos Dons está aberta apenas aqueles que são Batizados, Crismados, e membros praticantes da Igreja Ortodoxa.
A Liturgia chega ao fim com oração de ação de graças e a Bênção. Na conclusão da Eucaristia, a congregação aproxima-se para receber uma porção do pão Litúrgico que não foi usado para a oferta.
Original. Tradução em Português: Paulo Ferreira