O sofrimento e as lutas espirituais que dele advêm devem ser vistos sob uma luz positiva, uma vez que estas oferecem uma vasta variedade de virtudes e recompensas. As referências bíblicas e patrísticas sobre os benefícios do sofrimento são numerosas. Será suficiente citar apenas alguns exemplos isolados. O Apóstolo Paulo (c. 5-67) ensina que, “…mas nós também nos alegramos nos nossos sofrimentos, sabendo que o sofrimento produz perseverança; e perseverança, carácter; e carácter, esperança. A esperança não nos desilude…” (Rm 5:3-5).
São João Crisóstomo (347-407), na sua Homilia dedicada a este verso, distingue as recompensas futuras do sofrimento dos benefícios desfrutados no presente. Entre esses benefícios orientados mais para o presente, ele menciona “o incremento da fé”, que por si só encaminha a muitos outros benefícios. São Marcos, o Asceta (século V), escreve que a dor e o sofrimento conduzem-nos ao temor de Deus e ao arrependimento, e que o sofrimento voluntário é “por natureza o inimigo de prazeres sensuais”. Tais visões são partilhadas por São Máximo, o Confessor (580-662), que vê o sofrimento como um “enfraquecedor” dos prazeres sensuais, enquanto São Isaque, o Sírio (613-700), (nascido no Catar) refere-se a isso como um “matar a doçura das paixões”, assim como um “purificar do coração”. São Simão, o Novo Teólogo (949-1022), escreve que tais provas beneficiam o crente porque encaminham-no a um maior reconhecimento da compaixão e misericórdia de Deus, e que estas direcionam também o nosso amor em direção a Deus. Uma outra observação interessante é feita por São Thalassius da Síria (?-440). Ele observa que o benefício prático de tais provas é que estas revelam quem são os teus verdadeiros amigos.
São Silvano (1866-1938) acrescenta outro benefício. Quando este se refere aos seus primeiros anos como noviço na Montanha Sagrada, ele relembra a sua própria experiência pessoal de intenso sofrimento, que o levou finalmente à participação na graça. Ele conta como uma vez sofreu de um tal ataque opressivo de desespero e desânimo, o qual foi tão assustador que o aterroriza só de pensar nisso. Ele fez o seu caminho até à igreja para as Vésperas, chegando, e quando olhava para o ícone do Senhor, impetuosamente orava a Oração de Jesus. Então, como ele próprio explicou, ele viu o Senhor vivo no lugar do ícone. Tanto a sua alma como o seu corpo ficaram cheios com a graça do Espírito Santo. Ele também ficou com o novo desejo de sofrer pelo bem do Cristo. Através de tais exemplos nós vemos como a dor e o sofrimento podem conduzir ao progresso espiritual, a uma oração profunda e um maior entendimento do amor de Deus. Estas (os sofrimentos) também podem conduzir a uma “incomparável alegria” e “extrema felicidade”.
Também há aquelas bênçãos do sofrimento que aguardam o crente na vida que está por vir. Entre essas eternas e duradouras bênçãos estão a alegria e a glória. É interessante que o Ancião Sofrónio (1896-1993) considera estas futuras recompensas como “posse intransferível”, referindo-se também ao facto de que o fruto de tais trabalhos “ficam gravados em nós para a eternidade”. Portanto, o sofrimento providencia ao crente uma oportunidade de progresso espiritual e a aquisição de uma vasta variedade de benefícios e virtudes.
Harry Boosalis, “Orthodox Spiritual Life, according to Saint Silouan the Athonite”,
Saint Tikhon´s Seminary Press, US, 2011.
Tradução: Pedro Mota