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Categoria: Teologia Ortodoxa

A carta encíclica de São Marcos de Éfeso

São Marcos “o Cortês”: “Eu nunca farei isto aconteça o que acontecer.” [Na mesa: “Termos da União de Latinos e Ortodoxos: Em Florença em 1439.”]

Julho de 1444

A Todos os Cristãos Ortodoxos no continente e ilhas.

De Marcos, Bispo da Metrópole de Éfeso- Rejubilai em Cristo!

A todos os que nos enredaram em cativeiro maligno- desejando levar-nos até á Babilónia dos ritos e dogmas Latinos- não conseguiram, claro, completamente atingir isto, vendo imediatamente que havia pouca hipótese para tal. De facto, que era impossível. Mas tendo parado algures a meio- tanto eles como aqueles que os seguiram- nem permaneceram o que eram, nem se tornaram outra coisa. Por terem desistido de Jerusalém, uma Fé firme e inabalável- e ainda não estando em condições e não desejando de serem chamados Babilónios- eles então chamaram a si próprios, como se por direito, “Greco-Latinos,” e entre o povo são chamados “Latinizadores.”

Alison Sailer Bennet  – Pecado Original ou Ancestral? Uma Breve Comparação

„A desobediência primeira do homem, o Fruto
Daquela Árvore Proibida, cujo sabor letal
Trouxe a Morte ao Mundo, e toda nossa miséria
Com a perda do Éden, até um Homem maior
Nos restaurar, e uma vez mais recebermos o trono bendito,
Canta Ó, empírea Musa!”
John Milton, Paraíso Perdido, Livro I

Embora Milton tenha escrito de forma mais eloquente do que eu, a música da humanidade é criação, queda e redenção – uma bela sinfonia repleta de ricas polifonias, repentinas modulações e dissonâncias dramáticas. Em algum ponto, uma melodia trágica embrenhou-se na partitura, mas no fim é sobrepujada e a música conclui com fanfarra triunfante. Embora a maioria dos cristãos concorde com esta imagem musical, grupos diferentes escreveriam o prelúdio de forma diferente. De onde exatamente a melodia trágica veio, quem a escreveu na partitura, e como ela afeta o resto da música? A resposta a estas perguntas influencia os atributos das partes individuais, assim como a direção de toda a narrativa musical.

Esta é nossa narrativa de trabalho como alicerce do Cristianismo: Adão e Eva foram criados em comunhão com Deus, perderam esta comunhão, e o resto da humanidade os seguiu. Desta narrativa emergem duas visões divergentes sobre o ser humano, duas antropologias. Embora todos os cristãos usem o termo “pecado original” para se referir ao estado da humanidade depois da Queda (Rom. 5:12-21; Cor. 15:22), muitos Cristãos Ortodoxos preferem o termo “pecado ancestral”. Assim, por conveniência, utilizarei o termo pecado original para referir-me exclusivamente às articulações deste conceito feitas por Roma, Calvinistas e Luteranos, que ensinam que a humanidade herdou tanto os efeitos quanto a culpa do pecado de Adão. Em contraste, utilizarei o termo pecado ancestral, para denotar o ensino Cristão Ortodoxo de que a humanidade herdou apenas as consequências do pecado de Adão, e não sua culpa. Uma visão é ontológica, a outra é existencial.

O Caminho Ortodoxo

Para nós, cristãos ortodoxos, a vida inicia-se com o Batismo.  É a nossa jornada de fé, na qual o nosso primeiro passo é um salto: para dentro da Pia Batismal! É através do Batismo e do Crisma que os nossos pés são postos no caminho pavimentado pelos Santos, que percorreram essa jornada antes de nós. Como cristãos ortodoxos, carregamos a sua fé e a sua verdade connosco, verdade esta que se nos apresenta sólida, como uma rocha. De qualquer forma, a verdade da Ortodoxia é tão ativa quanto sólida. A verdade que trazemos no nosso interior e que faz surgir dentro de nós uma compulsão por viver de um determinado modo.

O Espírito Santo, por nós recebido, reaviva essa verdade, a qual se transforma, então, num caminho de vida: o caminho ortodoxo. Através dos séculos, nós, os fiéis ortodoxos, aprendemos cinco formas pelas quais o Espírito Santo opera para nos reavivar a verdade, para que estejamos realmente vivos, como Deus o desejou para nós. “(…) Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10:10). As cinco formas (ou experiências) que compõem o caminho ortodoxo são:

Ludmilla Garrigou – ÍCONE OU QUADRO? ICONÓGRAFO OU ARTISTA?

Tradução de monja Rebeca (Pereira)

Hoje, todos sabem que um ícone é uma imagem santa, uma imagem sagrada, uma imagem teológica e litúrgica; uma imagem que “fala de Deus” e, paradoxalmente, convida os nossos olhos a contemplarem o mundo invisível; “pelo intermédio da visão sensível, nosso pensamento recebe uma impressão espiritual que eleva-se à invisível Divina Majestade”, diz São João Damasceno.

Pode-se gostar ou não de um ícone. Mesmo sendo cada vez mais objeto de apreciação, o Ocidente não sabe ainda muito bem qual é atitude correta diante dele. Alguns o julgam hierático, rígido, sem expressão ou triste. Outros dizem não conseguir rezar diante dum rosto aparentemente duro e sem compaixão, sem misericórdia, sem ternura… Outros ainda sensibilizam-se diante do ícone dito da “Virgem de Vladimir”, pois ela é “impenetrável” e parece sentir dor por causa do “gládio que trespassará sua alma”. (Lc. 2,35). Com relação ao ícone da Santíssima Trindade de Rublev, temos que foi longamente estudado e explicado; neste caso, então, o espírito cartesiano do homem moderno ”entende“, “analisa”, encontra-se satisfeito e “admite” certas sensações, mas poucos entendem espontaneamente o significado profundo do ícone.

Photis Kontoglou – A ARTE SAGRADA DA IGREJA ORTODOXA

Tradução de monja Rebeca (Pereira)

A arte iconográfica na Igreja Ortodoxa do Oriente é uma arte sagrada e litúrgica – como todas as artes sagradas eclesiásticas – com um propósito espiritual. O objetivo dessas artes não é meramente o de decorar a igreja com pinturas, para torná-la mais prazerosa aos fiéis ou deleitar seus ouvidos com música: mas para elevá-los ao místico mundo da fé pela escada espiritual, os passos e degraus, que são artes sacras: a composição de hinos, construção de prédios de igreja, pintura religiosa bem como outras artes… Tudo isso trabalha junto, cultivando o Paraíso místico nas almas dos fiéis. Com isso, obras de arte na Igreja do Oriente são comentários sobre o mundo divino.

Igumeno Cirilo (Bradette) – A VENERAÇÃO DOS ÍCONES

Nós veneramos os ícones porque nos colocam na “presença real” do que representam. A Igreja latina só emprega esta expressão para a Eucaristia. Para os ortodoxos, as palavras são escassas para a Eucaristia. Enquanto não utilizamos termos adjetivos, falamos de “mistério”. O grande mistério é o mistério da Eucaristia. Dizemos, então, “o mistério litúrgico”, “o mistério eucarístico”. Evitamos o termo “transubstanciação”, pois não podemos afirmar que a Eucaristia seja uma mudança de substância. Mas sabemos que é uma mudança de realidade, o quê não é a mesma coisa. Consequentemente, não falaremos de aparências e de substância, mas do mistério da Presença.

Georges Drobot – A LUZ NO ÍCONE

Tradução de monja Rebeca (Pereira)

Na Igreja Ortodoxa a luz tem uma grande importância, para não dizer uma importância primordial. A palavra luz está sempre presente nos textos litúrgicos–tanto no decorrer das celebrações como na oração pessoal, acendemos velas e lamparinas a óleo. A luz física, aquela  dos astros ou das fontes de luz, torna–se o símbolo da luz eterna do Reino de Deus.

A arte sacra da Igreja Ortodoxa, tanto os ícones como os mosaicos e os afrescos ornamentando as paredes de uma igreja, é essencialmente uma arte litúrgica. Ela coloca em imagens a história da salvação iluminada pelas fontes patrísticas e litúrgicas lidas e cantadas durante os ofícios. Ora, os ciclos litúrgicos ortodoxos correspondem ao ritmo cósmico de nossa terra. “Orai sem cessar” (I Ts. 5, 17) é o mandamento que rege a vida de oração de todo cristão. Esta oração incessante, eterna, encarna–se nos ciclos do tempo terrestre regido pelo curso do sol.

John Breck – A Trindade segundo as Escrituras e os Padres gregos

Há cerca de trinta anos, Karl Rahner afirmou que os cristãos, na sua maioria, são “meros monoteístas” e que, uma vez provada a falsidade da doutrina da Trindade, a maior parte da literatura cristã popular e a mentalidade que ela reflete não precisariam ser alteradas. Infelizmente, tal afirmação não é de todo descabida.

Ao definir a doutrina da Trindade como um mistério que não pode ser compreendido exclusivamente pela razão humana, somos convidados a adotar uma posição como a de Melanchthon, que afirmou: “Nós adoramos os mistérios da Divindade e isto é melhor do que investigá-los.” No entanto, o perigo de não refletir cuidadosamente sobre o que foi revelado e como foi revelado é continuarmos cegos pelos nossos próprios deuses e falsos ídolos, embora estes tenham sido construídos teologicamente.

Então, como podem os cristãos acreditar e adorar o Pai, o Filho e o Espírito Santo e ainda afirmar que existe apenas um Deus e não três? Como se pode reconciliar o monoteísmo com a fé trinitária?