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António Constantino: A Distinção entre Essência e Energia e a sua Importância para a Abordagem ao Ser na Ontologia Neo-Patrística de Christos Yannaras

I. Introdução

Christos Yannaras é um filósofo e teólogo grego que faz parte da chamada corrente neo-patrística do pensamento ortodoxo. A corrente neo-patrística foi fundada pelos teólogos da diáspora russa, nomeadamente Georges Florovsky, Vladimir Lossky, John Meyendorff, etc. Tendo sido formada como reação à catividade da teologia ortodoxa por formas ocidentais e escolásticas de fazer teologia, ou seja, visou recuperar a perspectiva ortodoxa, que estava refém de um intelectualismo abstracto que lhe era estranho. Deste modo, a teologia neo-patrística recuperou a concepção apofática de Deus e dos entes, assente na distinção entre essência e energia. Tal concepção tem como resultado uma abordagem existencial e experiencial à Verdade, em contraposição com uma abordagem abstracta sobre a mesma. É precisamente essa abordagem apofática e experiencial que é o tema deste trabalho.

Mensagem de Natal do Metropolita Nestor (Dezembro 2024 / Janeiro 2025)

Mensagem de Natal do Exarca Patriarcal da Europa Ocidental,
Metropolita de Quersoneso e da Europa Ocidental, Nestor

Amados irmãos e irmãs no Senhor,
estimados presbíteros, diáconos e fiéis!

Nesta noite santa de Natal, desejo, com todo o coração, saudar-vos, felicitar-vos, encorajar-vos e agradecer-vos. Sim, especialmente nesta noite, quando todos estamos em pensamento e oração diante do grande mistério da Encarnação do Verbo de Deus, quando recordamos e vivemos novamente a vinda de Cristo, o nosso Salvador, ao mundo.

Em cada paróquia das nossas dioceses, em diferentes países, nas grandes e pequenas cidades e aldeias, bem como nas comunidades monásticas, hoje reúnem-se pessoas cujos rostos refletem alegria e esperança.

Alegria – porque Cristo veio ao mundo e acreditou em nós antes mesmo que nós acreditássemos Nele, amou-nos antes de podermos responder ao Seu amor.

Esperança – porque, se Deus está connosco, tudo pode ser corrigido e transformado em bem; porque, na terra e nos nossos corações, a paz verdadeira e inabalável reinará inevitavelmente.

Hoje, não procuremos imitar ninguém. Tenhamos a coragem de sermos nós próprios e de nos apresentarmos diante de Cristo tal como somos.

Que Cristo nos ajude a cada um de nós no nosso lugar de serviço e de vida.

Aos sacerdotes, aos monges e monjas, às esposas dos clérigos, aos cantores, àqueles que decoram os templos, que se ocupam das refeições festivas, aos benfeitores, aos responsáveis paroquiais, à nossa juventude – especialmente àqueles que trabalham com as crianças, que as ensinam e se alegram com a sua alegria –, a todos que, por amor a Cristo, praticam o bem e apoiam uns aos outros.

Se somos capazes de realizar algo bom, é porque Cristo nasce e vive em cada um de nós.

Feliz Natal a todos vós, queridos!

 † Dom Nestor, Metropolita de Quersoneso e da Europa Ocidental

Paris, Natal de 2024/25

Sobre a participação dos catecúmenos na liturgia

Queridos catecúmenos!

Até agora nunca tivera necessidade de falar sobre este assunto, porque, até há pouco tempo, todos os catecúmenos das nossas comunidades permaneciam na igreja, e aceitavam até ler os Salmos e a Epístola, se esta lhes fosse dada a ler. Mas, há vários meses, porém, que alguns catecúmenos saem da Igreja durante a liturgia, sem mesmo saberem o momento certo em que isso se fazia outrora, enquanto os outros, perplexos, não sabem o que fazer.

Mesmo os fiéis batizados não compreendem o que se passa, porque estavam habituados a que os catecúmenos permanecessem entre eles, embora sem comungarem, até porque mesmo os batizados não comungam todos em cada Liturgia; nesse caso, segundo o que diz São João Crisóstomo no seu Comentário à Epístola aos Efésios, deveriam sair juntos com os catecúmenos – o que não acontece na Igreja desde o séc. VI! De qualquer modo, nós conhecemos-vos, e não há, portanto, perigo de vos darmos a comunhão antes de estardes batizados.

Por favor, não saiais da igreja durante a segunda parte da Liturgia, tanto mais que, propositadamente, jamais lemos nas nossas igrejas a admonição diaconal que vos convida a sair! A perturbação que causais ao sair e esperar fora é maior do que a que podeis causar ficando na Igreja.

Festa de Natal – 25 de Dezembro ou 7 de Janeiro?

Nestes dias, tem circulado uma expressão teologicamente e historicamente incorreta que é importante esclarecer. Não podemos afirmar que o Natal de 25 de dezembro é “o Natal católico” e que “o Natal ortodoxo” ocorre no dia 7 de janeiro. Tal afirmação é errônea e carece de fundamentação.

Em primeiro lugar, é necessário frisar que nenhum cristão celebra o Natal a 7 de janeiro, exceto os fiéis da Igreja Arménia, que celebram a Natividade do Senhor a 6 de janeiro, segundo o calendário juliano, juntamente com a Festa da Epifania, ou Batismo do Senhor.

Mensagem pascal do metropolita Nestor (2024)

Explicarea icoanei Învierii Domnului | Public News FM

Mensagem pascal do metropolita de Quersoneso e da Europa Ocidental Nestor,
Exarca do Patriarca de Moscovo na Europa Ocidental

 

Caros e honrados confrades bispos, presbíteros e diáconos,
colaboradores na vinha de Cristo, monges e monjas amantes de Deus,
bem-amados em Cristo irmãos e irmãs:

Cristo ressuscitou!

A que ponto nós damos conta de que a Ressurreição de Cristo é a nossa última e única esperança? Todo o esforço parece ser vão, tudo parece não ter mais qualquer sentido, tudo se precipita em direção a destruição neste mundo, em que aparentemente nada mudou desde que os «seus» rejeitaram o Filho de Deus e O entregaram à morte, enquanto os «estrangeiros», ao passar, O achincalhavam e finalmente O matavam. Tudo manifesta a mesma indiferença, a mesma crueldade, sob o manto da hipocrisia, não há já nem verdade, nem consciência, nem bondade…

A Luz veio ao mundo, e os homens preferiram-lhe as trevas… (Jo 3:19). E, todavia, a Luz seguiu-os nessas trevas, Cristo terminou a Sua vida terrestre na obscuridade densa e impermeável da tumba, sob o Gólgota, onde o Seu corpo foi sepulto e rolada a pedra diante da entrada. Não havia já nem ruído nem movimento, e parecia que o próprio Verbo de Deus se calara para sempre.

Hoje, contudo, nesta noite pascal, essas trevas foram rasgadas pelo esplendor da Luz divina, a morte foi consumida pela Vida, Cristo ressuscitou, e traça a toda a carne o caminho da ressurreição.

É isso a nossa única esperança, a nossa resposta ante o pesado fardo da atualidade. Sabemos, com efeito, que a vitória última é de Cristo e está em Cristo, no triunfo da Luz, da Vida e da Verdade.

Que essa noção, que a alegria pascal nos ajude a permanecer humanos, simplesmente humanos, capazes de crer, de compartilhar e responder ao sofrimento dos outros, de perdoar e de amar os nossos inimigos, de nos amarmos uns aos outros e de, por tudo, dar a Deus graças.

Jubilosa Ressurreição de Cristo para todos vós, meus bem-amados!

Cristo ressuscitou! Em verdade, ressuscitou!

           Dom Nestor
Paris, Páscoa de Cristo, 2024

Padre Jerónimo Thomaz – DICAS PARA A QUARESMA

Como diz S. Leão Magno num sermão para a Quaresma (sermão 42), “embora não haja nenhum tempo que não seja repleto de dons divinos e em que por sua graça nos não faculte acesso à sua misericórdia é este o momento de com maior empenhamento e proveito espiritual sermos movidos e com maior confiança nos animarmos”. E acrescenta: “deveria a incessável devoção e a continuada reverência para com tamanhos mistérios” levar-nos a “permanecermos na presença de Deus como é conveniente que sejamos achados na própria festa da Páscoa”. Como, porém, “tal fortaleza é de poucos” torna-se necessário este tempo “para sacudirmos os corações da poeira mundana” de modo a “remirmos por obras pias as culpas de outros tempos e as cozermos em piedosos jejuns”.

Todo o jejum deve ser feito em espírito de alegria e ação de graças pelos benefícios que Deus nos concede e não num espírito de servil obediência às práticas que a igreja nos preceitua, já que vivemos sob a Lei da Graça, cuja essência é o amor, e não sob a Antiga Lei, cuja substância era o temor. Quando jejuarmos, seja tendo em mente que a Deus nada podemos oferecer que lhe faça falta, pois de tudo é abundante, mas numa renúncia simbólica, como se disséssemos a Jesus: “senta-Te comigo à mesa, pois guardei para Ti os melhores manjares” e nos contentássemos com os mais vis.

Como recomenda S. Basílio, devemos abster-nos de carne, não porque a carne seja impura, mas para em espírito restaurarmos a inocência de Adão, que para se alimentar se contentava com frutos e sementes, sem violentar os animais seus companheiros e, como obra das mãos de Deus, seus irmãos.

SALMOS PENITENCIAIS

Salmo 6

Senhor, não me acuses em Tua ira, nem me repreendas em Teu furor! Compadece-Te de mim, pois estou sem forças, cura-me, Senhor, pois tremulam os meus ossos; e muito se perturba a minha alma. Tu, porém, Senhor, até quando? Retorna-Te, Senhor, e livra a minha alma; salva-me, segundo a Tua misericórdia! Pois não há na morte quem de Ti se lembre; e nos infernos, quem Te confessará? Fatiguei-me de gemer; lavo, em cada noite, de lágrimas o meu leito, de meu choro ensopo a minha cama. Temendo a Tua cólera perturbaram-se os meus olhos, envelheci no meio de todos os meus inimigos. Apartai-vos de mim, todos quantos cometeis iniqüidade, pois escutou o Senhor a voz do meu queixume. Escutou o Senhor a minha prece, o Senhor aceitou minha oração. Cubram-se de opróbrio e sejam confundidos todos os meus adversários; sejam repelidos bem depressa, cobertos de vergonha.

Mensagem de Natal de Sua Eminência Dom Nestor, metropolita de Quersoneso e da Europa Ocidental

Bem-amados em Cristo padres, irmãos e irmãs:

Cristo nasceu!

Neste dia do nascimento de nosso Senhor segundo a carne, demos graças a Deus, que nos concedeu a graça, de uma vez mais, nos aproximarmos do presépio de Belém, onde o Filho Único e Verbo de Deus quis ser colocado pela Sua santa Mãe. Concedeu-nos Ele ainda neste tempo contemplar o amor divino e a confiança divina na Humanidade.

No seu profundo amor para com o ser humano, Deus fez brilhar sobre a terra a sua glória, para que juntamente com o céu partilhe a terra da Sua vida eterna. De todas as Suas criaturas terrestres, escolheu o nosso Pai celeste o Homem, para o revestir da Sua imagem e semelhança. É, porém, no seu Filho unigénito que Ele manifestou ao mundo o Homem mais autêntico e mais verdadeiro, tal como Deus o concebeu, e tal como cada um de nós recebe a vocação de se tornar.

Admiremos também, caros irmãos, a confiança na humanidade que Deus nos manifestou pela Sua encarnação. O Verbo de Deus, coeterno com o Pai e todo-poderoso, nasce segundo a carne despojado, tomando a condição de servo (Fil 2,7) – e avança humildemente como um infante recém-nascido, envolto em fraldas e deposto numa manjedoura, sem ter abrigo. Nada mais frágil! E, no entanto, é dessa fragilidade desarmante, dessa confiança no Homem, desse amor por ele que Deus faz a sua força para vencer a crueldade, a hostilidade e a arrogância do mundo que O não conhece!

Por conseguinte, esses dons divinos, que recebemos na Natividade de Cristo, não deveriam deixar ninguém indiferente. Diante da gruta com Cristo recém-nascido, naquele ponto em que a estrela estaca, devia também o Homem estacar e responder a essa profundidade de amor e a esse penhor de confiança.

Passar ao lado e seguir, como se nada se tivesse passado, seria reduzir o nascimento de Cristo na carne a um facto do passado, longínquo e sem consequências, insignificante e estéril para a humanidade. E de facto, nada repele tanto a graça como a indiferença: “sei que não és quente nem frio… e, portanto, pois que é morno, nem quente nem frio, vou-te vomitar de Minha boca” (Ap 3, 15-16). No mundo surdo e insensível, perdido em busca de coisas fúteis, nós, cristãos, temos por vocação dar provas do nosso fervor.

Eu sei, queridos padres, irmãos e irmãs, que vós não sois mornos, que respondeis à Boa Nova da vinda do Salvador com grande fervor e vos converteis (Ap 3,19).

Com corações ferventes, repletos de júbilo, celebremos o Verbo de Deus vindo na carne como Rei de Paz e Salvador das nossas almas!

Que a paz de Cristo recém-nascido esteja com todos vós!

† Nestor, Metropolita de Quersoneso e da Europa Ocidental
Exarca patriarcal na Europa Ocidental

Natividade de Cristo, Paris, 2023-2024.

Dom Pedro Pruteanu sobre a liberdade religiosa

Entrevista dada por Dom Pedro Pruteanu a Aryelle Bastos
da Agência BlueLine sobre a liberdade religiosa

 

Qual é a importância desta igreja na representação da história do país?

A comunidade ortodoxa de Cascais foi constituída em 2004, sendo formada por imigrantes provenientes da Moldávia, Ucrânia, Rússia, Roménia e outros países. Obteve em 2006 como lugar de culto a capela “Ermida Nossa Senhora da Conceição dos Inocentes”, localizada aqui, em Cascais. Esta capela foi construída em 1634, em memória a um naufrágio que teve lugar aproximadamente no ano de 1609.

Quando se fez sentir o grande terramoto e tsunami, em 1755, que devastou toda a costa de Cascais até Lisboa, a capela e todos os fiéis que se encontravam naquele momento no seu interior sobreviveram, de forma milagrosa, apesar da sua proximidade ao litoral.

De momento, a paróquia serve também como capela episcopal para o Vicariato de Portugal, do qual sou o bispo responsável além de permanecer como pároco honorífico desta comunidade.

Já presenciou atentados ao património da sua igreja?

O maior património de uma igreja não são as paredes ou os objetos de culto, mas sim, as pessoas, os crentes que aqui vêm para se encontrar com Deus. Nesse sentido, pode-se afirmar que a privação dos crentes das condições adequadas para a oração constitui o maior atentado ao património da igreja.

A igreja onde estamos foi contruída numa altura em que Cascais era uma aldeia de pescadores. Hoje em dia, em que Cascais é um centro turístico importante, tanto para Portugal como para a Europa, e à sua volta existem locais de interesse turístico bastante movimentados, bares e música alta, torna-se difícil manter este local sossegado e tranquilo.

Por várias vezes as paredes e as portas da igreja foram grafitadas, foi mandado lixo por baixo da porta e, no cruzeiro situado do lado esquerdo da igreja, onde há uma praceta, há constantemente ajuntamentos de pessoas que consomem álcool, fazem barulho e, muitas vezes, propõem a venda de droga às pessoas que por aqui passam. Julgamos que todos estes acontecimentos vão para além de um atentado.

Padre Jerónimo Thomaz: Kenôsis do Filho de Deus e do Espírito Santo

 

Deportado e prisioneiro na Assíria, assim orava Tobias ao Senhor: “Bendito és Tu, ó Deus vivo, cujo reinado se estende pelos séculos! (…) Confessai-O, filhos de Israel, à vista das nações, pois Ele nos dispersou entre elas: proclamai aí a Sua majestade e exaltai-O perante todo o ser vivente”. Sem pretender de modo algum perscrutar os desígnios do Senhor, que permanecem insondáveis, não posso arredar inteiramente o pensamento de que Deus — agindo, como sempre através de causas segundas, neste caso, condições económicas e políticas — terá permitido a diáspora de tantos cristãos do Leste da Europa, para que proclamem no Oeste as suas maravilhas e assim colaborem na re-espiritualização do Ocidente e na renovação do pensamento teológico ocidental.

Disso temos já um exemplo, no que se passou após a revolução russa de 1917, que obrigou muitos filósofos e teólogos da Rússia a refugiarem-se em países ocidentais. Foi assim que em 1924 surgiu em Paris o Instituto de Teologia Ortodoxa S. Sérgio, em que ensinaram teólogos da envergadura dos arciprestes Sérgio Bulgákov e Jorge Florovsky, pioneiro da corrente neopatrística e do movimento ecuménico, para citar apenas dois nomes. A sua influência propagou-se rapidamente à Igreja Católica-Romana, em que imperava então uma Escolástica racionalista, que na sua decadência se tornara estéril, dissociando a teologia da vivência cristã e reduzindo-a a uma cadeia de teoremas sobre a Divindade, que a aproximava mais da matemática do que da Fé. Não é por mero acaso que em Coimbra, enquanto perdurou a Faculdade de Teologia, em 1910 condenada à morte pela república, muitos estudantes se diplomavam simultaneamente em Teologia e Matemática…

No entanto, sem renegar a sua tradição, teria podido a igreja pós-tridentina encontrar nela a base para reagir a esse imperialismo da razão, que, para retomar a expressão usada em 1270 e de novo em 1277 pelo arcebispo de Paris e pela Sorbonne, nos seus dois sucessivos alertas contra os perigos da Escolástica que então se desenvolvia, “sujeitava Deus à lógica de Aristóteles”. De facto, ao crescente imperialismo da lógica aristotélica opôs-se desde logo a teologia monástica, mais experiencial, de que foi figura de proa o pai da escola franciscana, Boaventura de Balneorrégio (c. 1218-74), “ministro-geral” da sua ordem: sobretudo no seu Breviloquium, e no seu Itinerário da mente para Deus, rejeita como “manca, defeituosa e sem sentido humano” a filosofia que se baste a si mesma, sem reabilitar o homem através dos três graus consecutivos da ciência, da sabedoria e da bem-aventurança.